A literatura costuma ser algo hermético, isto é, algo aparentemente fechado, oculto, difícil de acessar, talvez, para a maioria das pessoas.
Muitos já se defendem dizendo: “não gosto de ler” ou “não entendo nada de literatura”.
Segundo o estudo “Analfabetismo no Mundo do Trabalho”, uma parceria do Instituto Paulo Montenegro (IPM) e a ONG Ação Educativa, a população brasileira tem 27% de analfabetos funcionais na faixa etária entre 15 e 64 anos. Somente 8% dos brasileiros desta faixa etária são capazes de se expressar e de compreender plenamente. O que nos leva a concluir que a baixa escolaridade seria um dos motivos do baixo interesse pela leitura e, consequentemente, pela literatura.
Além disso, o que normalmente se vê no Brasil é uma total falta de incentivo para tornar a literatura parte natural da vida das pessoas – de qualquer idade, não somente de crianças. Não que não existam iniciativas pontuais, pois, sim, existem. Entretanto, faltam programas de abrangência nacional que sejam mais efetivos.
Muitas vezes o termo literatura vem acompanhado de definições como: “algo que não serve para nada”, “tenho coisas mais importantes a fazer” e assim por diante.
Então vamos começar do começo e tirar o véu que encobre esse assunto, muitas vezes, difícil de entender.
O que é literatura?
Literatura é, em princípio, “toda coisa escrita”. Entretanto, ao longo dos anos o termo “literatura” ficou mais associada à ficção, isto é, às histórias criadas com criatividade e imaginação.
E a literatura como ficção é nada mais do que o ato de se contar em texto uma história, uma narrativa.
É importante lembrar que as histórias fazem parte da vida dos seres humanos, desde o tempo das cavernas quando se contavam histórias de caçadas ou de atos heroicos de batalhas ou de eventos divinos ao redor da fogueira. Aliás, o que nos diferencia dos animais não é a linguagem, mas as histórias.
Podemos encontrar histórias em todos os lugares. Desde a fofoca que corre solta pela rua, até um “causo” acontecido ou não. Há histórias de pescador, do imaginário popular, das crendices e das histórias inventadas. Histórias de divindades, sacras e mundanas. Histórias criativas, estruturadas, construídas com esmero. E, posso dizer, que somos ansiosos por histórias. Necessitamos delas, sempre querendo saber da última. Sempre ouvindo com atenção o final “daquele acontecido”.
Seria verdade? Seria mentira? Tanto faz, mas o prazer de ouvir uma história é sempre grande.
No entanto, estas são histórias faladas, contadas “de boca a ouvido”. Então, o que acontece com as histórias quando estas passam do formato falado para o escrito que o interesse por elas diminui drasticamente?
Posso argumentar que as histórias orais sempre são conduzidas de forma diferente cada vez que são contadas. Que as construções nem sempre são perfeitas. Que as normas do idioma nem sempre são respeitadas, e nem precisam ser. Ao passo que na forma escrita, os textos são escritos, editados, revisados, corrigidos e possuem o padrão da norma culta, ou gramática. Que as palavras estão escritas corretamente e por aí afora.
O que ocorre é que ao se transpor uma história oral para a escrita é necessário que o, agora, leitor tenha que ser um agente ativo, isto é, quem lê precisa “fazer a sua parte”: ler, processar e entender de forma pessoal e solitária. Enquanto na oralidade as histórias são compartilhadas coletivamente, na leitura do texto escrito é preciso concentração, esforço independente.
Seria este o impeditivo que faz com que muitas pessoas não gostem de ler? Que não se arrisquem em um tempo de concentração para poder absorver as informações de um texto escrito?
Digo mais, seria nosso clima, nosso jeito de ser do brasileiro, tão informal e sempre rodeado de pessoas, impróprio para a necessidade da pausa e da reflexão para a leitura?
Talvez seja tudo isso e ainda mais.
Sendo assim, se por um lado naturalmente gostamos de histórias, por outro existe uma resistência para a leitura, então é certo que exista um outro elemento-chave para que alguém “pegue gosto de ler”: a escolha do livro ou o texto certo para sua leitura.
Por livro certo me refiro àquele com assunto de interesse, linguagem adequada à escolaridade (para adultos ou crianças), domínio e compreensão de texto.
Seriam estes motivos suficientes para que ocorra o encantamento de um não leitor pela literatura?
Somente o leitor poderá dizer. Mas quero animá-lo a tentar. Se sua cidade tem biblioteca, livraria, tome coragem e comece a procurar por temas que lhe interessam. Aventuras, viagens, romance, mistério, policial, terror, são tantos os gêneros nos quais você pode iniciar.
A internet também está repleta de textos literários, nem sempre primando pela qualidade, mas é possível garimpar.
Depois de escolher o tema, escolha algum que tenha uma linguagem ou estilo que lhe agrade. E pronto! É escolher um local onde você possa se concentrar e ler. E começa de maneira simples: leia uma frase, um parágrafo, uma página e quando você vir, terá lido o livro todo.
E mais, tente se conectar com outras pessoas que também leem. Troque impressões, comente, troque livros. Isso nos faz querer avançar e melhorar a cada dia.
Por fim, acredito que além de nos proporcionar entretenimento, a literatura nos proporciona elevar o pensamento, a reflexão, a ativação dos neurônios, a construção de imagens mentais, e assim, o auxílio na preservação da nossa saúde física e mental.
Seja bem-vindo, seja bem-vinda ao mundo da literatura!
Autor
SANDRO BIER é criador do canal Café do Escritor, que desde 2015 auxilia novos escritores e autores já publicados, a escreverem melhor e a publicarem os seus livros.
Acredita na transformação da pessoa por meio da jornada da escrita.
É editor de livros com 20 anos de experiência, atuando também como Mentor editorial e produtor de cursos de comunicação escrita e escrita criativa.
Em 2022, lançará seu livro O alívio das palavras, pelo seu selo EntreCapas.