Às vezes eu acho que, se eu me cortar, vai sair café das minhas veias de tanto que sou dependente químico desse líquido. Qualquer dia desses eu vou pegar a garrafa térmica, servir o café numa xícara e levar a garrafa comigo até o cômodo, onde se encontra o meu notebook. E é também onde estou nesse exato momento escrevendo essas letrinhas que você lê. Adivinha o que tem em cima da mesa bem do ladinho direito do teclado!
Se você disse um gato frajola muito preguiçoso e comilão, por nome Mocinho, acertou. O café fica do lado esquerdo, em uma xícara com o desenho de um cacho de uvas.
Ao meu redor, há duas estantes de 3 andares dos mais variados livros. Quando o assunto é papel, eu sou um acumulador compulsivo. Tem livros de todos tamanhos, formatos, cores, sabores, temas, idiomas e por aí vai. Atrás de mim, uma cama onde jogo pelo ombro alguns papéis e cadernos de anotações avulsos. Aquilo era uma cama, eu acho. Teria de tirar tudo isso de cima para conferir. Mas o Mocinho a adora. Vez ou outra eu me deparo com uma peça de roupa. Por causa disso acho que possuo mais livros que roupas. Por fim, há uma porta e uma janela que eu insisto em manter fechadas por causa da claridade. O que é um péssimo hábito. Às vezes, precisa o sol se pôr e o efeito da cafeína passar para eu me lembrar da utilidade daquilo atrás de mim e me arrepender de ter jogado tudo lá.
Sabe o que é tudo isso que eu acabei de descrever? Você não vai acreditar, mas essa é a minha maior invenção e que vai revolucionar o mundo! Mas silêncio, viu? Que isso fique só entre nós dois. Isso, meu amigo, é um cubo mágico, capaz de me transportar através de um gigantesco leque de diferentes mundos, de diferentes universos, de diferentes realidades, até onde a sua imaginação for capaz de conceber. É um porto por onde se passam os mais diferentes navios que interligam diversos mundo, onde as regras podem mudar como o fluxo de um rio. É um não acaba mais de aventuras. Tudo apertando apenas algumas teclas de meu teclado, mas com a combinação certa, é claro.
Penso em chamá-lo de quarto, ou escritório, ou feijoada. Ainda não me decidi.
Com um bom livro, essa máquina pode me transportar para mundos imaginários, permitindo uma fuga temporária da realidade. Posso adquirir diferentes perspectivas e experiências. Posso ver o mundo através dos olhos de outros personagens, o que me ajuda a entender melhor a minha realidade. Posso também explorar diversos conceitos e ideias que nunca havia pensado antes. Além, é claro, de ser um excelente e divertido hobby.
Entendi! Parece interessante. Como faço para ter um desses?
Muito simples! Essa coisa já existe, e está dentro de você. Imagine um ser, uma entidade ou qualquer outra coisa maluca que é capaz de presenciar diversas vidas humanas. Um ser que é capaz de nascer, viver, morrer e ressuscitar tantas vezes assim desejar. Um ser que seja capaz de romper a realidade que vivemos e viajar por tantas outras realidades apenas com o poder do pensamento. Imaginou? Essa coisinha é você.
Sério? Eu posso fazer tudo isso?
Sim! Peguem seus livros, crianças, e abram na página 26. Parabéns, você acabou de fazer uma viagem interdimensional para um novo mundo. Aproveite a estadia!
Essa é a magia da leitura.
Com ela, você não vive apenas uma vida. Você é capaz de experimentar sensações que jamais poderia imaginar que existiam se não as tivesse presenciado.
A leitura te leva para um cantinho novo, um mundo idealizado por um escritor que não quis guardá-lo apenas para si e desejou que você o conhecesse. E o seu livro é o ingresso de entrada para esse mundo.
A escrita, em sentido parecido, lhe leva para um cantinho só seu; e, ao publicar o seu livro, você compartilha seu mundo com outras pessoas, dando, assim, mais vida para ele.
Existem vários motivos que levam uma pessoa a querer exteriorizar aquilo que têm em suas cabeças.
Você pode querer contribuir para o conhecimento. Pode querer ter fama e reconhecimento pelo seu trabalho. Pode também querer só se expressar artisticamente. Ou então ganhar dinheiro. Como também você pode querer passar uma mensagem, ver um mundo de um jeito alternativo. Esse é o meu preferido. Em vez de estudar para o vestibular do Enem, acho mais interessante um herói que passou anos trancafiado numa fortaleza aprimorando a sua técnica secreta para enfim desafiar um dos lendários guardiões e tomar o seu posto, para que assim ele possa adentrar o palácio do conhecimento e se tornar um mestre artesão de técnicas secretas. Em vez de fazer a famigerada prova prática do Detran, nosso herói estudou os mecanismos de uma poderosíssima máquina capaz de mover o mundo e teletransportar os indivíduos a bordo para uma outra posição do espaço-tempo, onde ele deve demonstrar a um dos anciãos que ele é digno de possuir o pergaminho da vontade sobre 4 rodas, e assim não mais precisar tomar os portais interdimensionais usados pelos outros magos. Ou em vez de escrever um livro, o herói está criando um outro mundo, simples. Literalmente a imaginação é o limite.
Consegue ver agora o poder do feijoada?
Esse, meus amigos, é o poder transformador da escrita. Com ela, somos capazes de ressignificar as nossas sensações passadas. É com ela que eu consigo aprender com meus erros e acertar. É por meio dela que eu consigo conversar comigo mesmo.
O que eu aprendi com um determinado evento em uma determinada época de minha vida? Consigo dar
sentido a isso? Consigo reescrever esse pequeno recorte de minha vida em uma linguagem que eu goste e diferente da minha realidade? Consigo repassar para outras pessoas o que aprendi com tudo isso de modo que elas possam visitar esse meu mundo e viver o que eu vivi e aprender com o que eu aprendi? A resposta é sempre sim!
A escrita é uma poderosíssima ferramenta de transformação. Jamais subestime o seu poder. Uma pessoa nunca mais é a mesma depois que termina um livro. Ao escrever, mergulhamos em nossa própria alma, onde cada palavra que traçamos levam consigo um pedacinho de nós e de nossa história. Através da escrita, conectamo-nos verdadeiramente com o outro, compartilhamos nossa essência humana, revelamos verdades íntimas e estabelecemos conexões com o outro e, principalmente, com nós mesmos.
Portanto, jamais deixem de escrever. E se você não escreve, comece agora mesmo. Pois é com a escrita que encontramos uma voz interior capaz de falar mais alto que nós, pois a mensagem pode chegar a quem nunca nos viu ou ouviu, não importa a distância nem o tempo que separa o leitor do escritor. Escrever um livro é mais que uma conquista pessoal, é deixar um legado que conecta experiências e emoções.
Agora, se me dão licença, preciso buscar mais café.
Conheça o livro do autor Matheus Rocha, O Viajor
5 respostas
Muito interessante, parabéns pelo texto
Simplesmente amei!
Que texto divertido!
Que texto leve, bacana e descontraído sobre a arte e a necessidade humana de escrever. Eu poderia dizer que viajei na feijoada enquanto apreciava a leitura. Meus mais sinceros agradecimentos. Um forte abraço!
Amei o texto.Muito bom!