CARTA PARA CORA

CARTA PARA CORA

Cora,
te escrevo da terra vermelha dos dias,
onde os rios correm apressados,
mas as palavras, como tuas,
preferem demorar-se nos quintais.

Fizeste do chão batido um livro,
da pedra rude, um abrigo de versos,
e das miudezas da vida,
um relicário de eternidade.

Diz-me, Cora,
como foi semear poesia
entre tachos de doce,
bordar esperança no pano gasto do tempo,
sem nunca temer as rugas no rosto
que só a vida bem vivida sabe dar?

Tua pena, mais forte que o fado,
não escreveu para salões dourados,
mas para as mãos de quem planta,
de quem fia e desfia os dias,
tecendo histórias à luz do fogão.

E eu, aprendiz tardio de teus silêncios,
te escrevo para dizer
que tua casa de portas velhas
ainda abriga sonhos novos,
e que teus versos,
colhidos com as mãos da infância,
florescem em cada esquina
onde uma mulher ousa existir
sem pedir licença ao tempo.

Com gratidão,
um viajante dos teus versos.

SIBIPIRUNA

Sibipiruna, árvore dourada
Nos caminhos da vida, entrelaçada.
Raízes firmes na terra,
Sabedoria em si
Guardando em sua memória
Muitas histórias daqui.

Seus galhos sustentam o céu
E na tua grande imponência
Ostenta teu áureo véu.

Suas flores quando caem
Formam um lençol dourado no chão
Pinta a terra da cor de ouro
inspira poesia e canção.

Suas folhas dançam ao vento leve
A tua sombra acalma
E o calor se faz breve.

Em seus galhos fazem ninhos
Pica-paus, bem-te-vis, maracanãs…
E me acordam com algazarras
Me encantando todas as manhãs

Sob o seu véu dourado
A Paz se faz morada
Sibipiruna majestosa
Minha rainha enraizada.