Um belo dia resolvi mudar… E escrever esta carta para Rita Lee

Bela Vista do Paraíso, 3 de março de 2025

Querida Rita Lee,

Confesso que fiquei pensando se minha destinatária seria mesmo você, já que fui desafiada a escrever para alguém do passado. Você lá é “do passado”? Apesar de não estarmos mais no mesmo plano físico, suas palavras ainda ecoam em mim e são reverberadas por milhares de pessoas. Isso não te faz alguém do presente? É certo que sim. Mas o fato é que tudo o que você disse inspirou tanta gente que veio antes de mim… Isso não te faz alguém do passado? Também.

De todo modo, espero que não se incomode em ser considerada “do passado” nesta carta. Caso se incomode, desculpe o auê, mas como eu sou um caso sério, vou continuar escrevendo estas mal traçadas linhas.

Rita, já faz quase 2 anos que você subiu em seu disco voador e nos deixou aqui. Há muita coisa de que eu poderia me queixar. Tem tanta bizarrice acontecendo que eu gostaria de fugir com você pra Shangrilá agora mesmo. Eu poderia reclamar da onda de caretice que parece ter tomado conta de todo mundo ou bufar com relação ao mercúrio retrógrado, que está pra começar no meio de março e só vai acabar em meados de abril.

Mas há coisas boas também que eu poderia te contar. O Brasil ganhou ontem um Oscar por melhor filme internacional! Você certamente teria adorado assistir a essa obra e vivenciar a união que tomou conta do país na torcida por essa vitória histórica. Também poderia te revelar que uma música sua virou hit no TikTok! Sim! Foi “Chega mais”. As pessoas estão usando o trecho “Eu conheço essa cara, essa fala, esse cheiro…” para alertar os outros, de brincadeirinha, sobre situações que já vivenciaram. É o que a galera chama de “trend”. O máximo, não acha?

Bom, apesar de todas essas coisas que eu poderia dizer nesta carta, decido apenas te agradecer por ser esse exemplo gigantesco para todo mundo que te admira. Não há uma única pessoa neste país de meu-deus que não tenha ouvido falar de você. E que bom! Tudo isso porque você é gigante, estonteante, fenomenal. Uma mulher que não foge à luta, é gata borralheira, princesa, quer ser amada, quer ser feliz… Uma mulher que é pau pra toda obra, que não é freira nem é puta e que é mais macho que muito homem.

Obrigada, Rita Lee, por ter feito um monte de gente feliz.

Um grandioso abraço e um beijo bem demorado,
Ana Clara

Eu queria lhe dizer…

Olá, mamãe!
Se aproxima o Dia Internacional das Mulheres e vi um post no Café do Escritor com um desafio da escrita. Meus pensamentos foram invadidos pelas lembranças das nossas conversas. Queria lhe dizer tantas coisas… A primeira delas é que estou em um relacionamento sério com a escrita, seguindo os passos de papai, e também da senhora.
Tenho as melhores lembranças de nossa convivência aqui na Terra. Se por um lado foi quantitativamente curto, um tempo Chronos, por outro foi Kairos, um tempo de qualidade. Lembro-me das nossas conversas, e de suas orientações de ir além das aparências quando me dizia: “não pode ser por fora bela viola, e por dentro pão bolorento”. Não apenas com palavras, mas com atitudes, nos mostrava a importância do senso de organização, de ser útil, mas também criativa, e de sempre gostar de aprender de tudo um pouco.
Sabe as nossas bonecas dorminhocas? Mandei fazer para as minhas netas bonecas iguais, para ensiná-las, assim como a senhora me ensinou, o valor da utilidade e da organização.
Aonde vou, carrego seus ensinamentos mamãe. No trabalho, há tempos atrás, propus uma homenagem ao Dia Internacional das Mulheres no formato de um encontro empresarial que utilizava como pano de fundo o filme “Do que as mulheres gostam”. Aquele com o Mel Gibson. Foi um momento de refletir e conversar sobre oportunidades iguais nas empresas, e de falar sobre o que as mulheres realmente querem.
Há pouco tempo atrás, assistindo um “Dorama”, a protagonista diz: “A Jane pode gostar de flores, só que eu prefiro pedras. Flores são inúteis em uma ilha deserta, mas pedras podem ser usadas para derrubar frutas das árvores e espantar lobos.”
Penso que, na verdade, foi a forma que a personagem encontrou de ser ouvida. Quero dizer que podemos ser diferentes, ter gostos diferentes, mas é certo que todas nós queremos ser ouvidas e compreendidas.
Te amo mamãe.
E, como diz Ruy Barbosa: “amor de mãe não morre, só muda de atmosfera.”
Sua filha, Lalaia.

Adelaide Pires
@pires.adelaide

Mulheres em mim

Querida bisavó,
Escrevo-lhe com um lenço à mão. Estou emotiva hoje. Será que podemos nos comunicar através desta carta? Espero que minhas palavras possam alcançá-la no espaço-tempo, de alguma forma, onde estiver.
Faltou tão pouco para nos conhecermos pessoalmente, não é!? Sinto muito por não estar aí antes de partires dessa existência. Me perdoa, antecipei a minha chegada o quanto pude, mas só consegui nascer dois dias após a sua partida. Mas pude senti-la do ventre materno. As emoções da mamãe estavam intensas naquele dia. De certa maneira, a mamãe nos apresentou um tempo depois, ao contar histórias e mostrar fotos da senhora.
Nos momentos em que estou no sítio sinto-me mais conectada com a senhora e a vovó. Contemplo as árvores que plantaram; às vezes até converso com as borboletas e os beija-flores. A vovó dizia: “Quer borboletas no seu jardim? Cuide das flores, que as borboletas e os beija-flores virão por conta própria”. Sabia que era uma orientação também para a vida. Acho que a vovó gostaria de saber que o sítio vem sendo conservado e valorizado pela mamãe, com amor. Quando encontrar a vovó, por favor, conta isso para ela!?
Aliás, lembra das mudas de bananeira e de camélia que a senhora trouxe de uma comunidade vizinha? Ainda estamos colhendo e desfrutando das bananas, cultivadas por ti. A propósito, diz para a vovó que aumentamos a produção das bananeiras por aqui; ela falava que seria desafiador devido à geada, e realmente foi, mas insistimos em plantar várias mudas em lugares diferentes, eis que cresceram em abundância. Quanto aos pés de camélia que a vovó plantou, permanecem aqui. Eu e a mamãe costumamos sentar na sombra dessas árvores para ler um livro, com os pés descalços na grama. É agradável sentir o frescor natural dali.
Bisa, quero dizer que sou grata pelo legado que a senhora e a vovó deixaram e por tê-las comigo, fazendo parte das mulheres da minha ancestralidade. Agradeço especialmente à herança de aspecto invisível, de bem maior, que transcende gerações. Não tenho dúvidas de que carrego em mim a força e a coragem das duas, e, claro, da mamãe. Reconheço as dores e os obstáculos que superaram para que eu pudesse ter a minha vida. Eu as vejo e as honro! Todas tem o seu lugar no meu coração.
Ah, as lágrimas que derramei hoje foram de respeito, de gratidão e da saudade que sinto. Despeço-me por ora. Eu te amo.
Com afeto, sua bisneta.