Lembranças

Querida Tereza, escrevo esta carta para dizer que hoje sou avó como você. Tento ser o mais presente possível na vida da minha pequena Luna. Quero que ela se lembre de mim quando eu partir, mas que as lembranças dela sejam de alegrias, brincadeiras, não como as minhas. Tudo que recordo da senhora é a imagem de vê-la deitada em uma cama, onde mal podia nos dar atenção. Sei que não foi culpa sua não conviver mais conosco. O trabalho do meu pai levou-nos para longe. Cresci com a dor de ter passado poucos momentos ao seu lado e ter como única lembrança os gemidos de dor que a morfina não consegui mais conter. Minha neta leva seu sobrenome como uma homenagem a senhora e a nossa descendência. Vejo meus amigos falando de suas avós, do que viveram com elas e a saudade e tristeza invade meu coração. Nem ao menos pude sepultá-la, pois estávamos longe. Tudo que me restou foram suas fotos e a certeza de que me amou mesmo à distância. Infelizmente como eu, meus filhos também não contiveram com a avó. Eu também parti pra longe como meu pai e da mesma forma meus filhos carregam a mesma dor que eu. Quero que saiba que contarei sua história, aquelas que a minha mãe contava, para minha pequena Luna. Lembrarei da senhora todos os dias através dela. Minha doce Tereza, jamais foi esquecida, mesmo tendo partido a tantos anos. Eu te amo e guardarei seu rosto e seu sorriso, em meio a dor, para sempre no meu coração.

Elis Cavalheiro

Lembranças

Lembranças

Querida Tereza, escrevo esta carta para dizer que hoje sou avó como você. Tento ser o mais presente possível na vida da minha pequena Luna. Quero que ela se lembre de mim quando eu partir, mas que as lembranças dela sejam de alegrias, brincadeiras, não como as minhas. Tudo que recordo da senhora é a imagem de vê-la deitada em uma cama, onde mal podia nos dar atenção. Sei que não foi culpa sua não conviver mais conosco. O trabalho do meu pai levou-nos para longe. Cresci com a dor de ter passado poucos momentos ao seu lado e ter como única lembrança os gemidos de dor que a morfina não consegui mais conter. Minha neta leva seu sobrenome como uma homenagem a senhora e a nossa descendência. Vejo meus amigos falando de suas avós, do que viveram com elas e a saudade e tristeza invade meu coração. Nem ao menos pude sepultá-la, pois estávamos longe. Tudo que me restou foram suas fotos e a certeza de que me amou mesmo à distância. Infelizmente como eu, meus filhos também não contiveram com a avó. Eu também parti pra longe como meu pai e da mesma forma meus filhos carregam a mesma dor que eu. Quero que saiba que contarei sua história, aquelas que a minha mãe contava, para minha pequena Luna. Lembrarei da senhora todos os dias através dela. Minha doce Tereza, jamais foi esquecida, mesmo tendo partido a tantos anos. Eu te amo e guardarei seu rosto e seu sorriso, em meio a dor, para sempre no meu coração.

Elis Cavalheiro

Carta para minha avó Ona Bastyte Petraitiene

Carta para minha avó paterna, Ona Bastyte Petraitiene

Querida avó Ona, fiquei muito feliz ao reler as tuas antigas cartas mandadas para meu pai, teu filho Alfonsas (1923-1990). Estamos separadas há anos por tempo e espaço, e quantas dúvidas surgiram em minha mente, como ficaria feliz em ter te conhecido pessoalmente e poder conversar sobre os tempos passados. Sei muito pouco sobre a tua vida, teus sonhos, tua história, mas do pouco que sei, tenho muitas perguntas a te fazer. Sei que nasceu na Lituânia, ou pelo menos acredito que tenha sido a tua pátria. Então porque a tua história, contada por meu pai, era que morava em São Petersburgo? E sei que morava na Nevski Prospect, mas não sei o número e a rua é longa, bem longa…
Sei pela minha procura e por ter estado nela quando fui visitar o Hermitage que a Avenida Nevsky (Невский проспект, Perspectiva Nevsky) é a principal avenida de São Petersburgo, na Rússia. Pensei, caminhando por ela em um dia frio de -14ºC, como devia ser o aquecimento nos dias frios quando vivia lá? Imagino uma lareira ou algo parecido alimentado com lenha.. Sei que, como casou com meu avô em 1921, na Lituânia, e foi para lá antes da 1a. Guerra Mundial quando seu pai, meu bisavô, ao perceber o perigo que se aproximava, a enviou para o interior da Lituânia, a pequena vila de Jurbarkas, para casar com Jurgis Petraitis. Triste realidade a chegar e difícil decisão separar a filha da família… todos os outros morreram, não sobrou ninguém para continuar a história da tua família, também minha, a não ser você, minha querida avó. Do teu pai, Sr. Bastys, nem o primeiro nome sei… e em quantos vocês eram? Ele, sendo o Secretário do Ministro de Relações Exteriores do Czar Nicolau II (1868-1917), devia viver perto da corte e imagino você vestida com uma roupa linda indo de coche pelas ruas da cidade para o palácio onde a família real morava. Penso que deveria ser muito nova, mas, com certeza era linda! E mesmo não sendo de família nobre, deve ter conhecido o Czar Nicolau II, sua esposa e seus filhos. Penso em onde estudou, onde passou os anos de sua infância e juventude e tudo fica enevoado, coberto por incertezas que gostaria de conhecer. Enfim, há tantas perguntas que gostaria de lhe fazer… um dia vamos nos reencontrar em outra dimensão e vou ficar muito feliz em compartilhar nossas histórias, com meu respeito e carinho, onute

Carta para minha avó

MINHA QUERIDA AVÓ

Caminhos foram semeados pelo seu amor. Histórias encantadas; quimeras coloridas com lendas, cucas, e monstros imaginários, habitam em minha alma. Mesmo sem uma didática consciente; conceitos do bem e mau, certo e errado, valores de família foram passados; e ainda são repassados de geração em geração aos seus descendentes. Todos nós carregamos sua marca.
Você é Inspiração; Ousadia diante do novo: a primeira mulher a usar maiô em sua cidade. Força: ao prover o sustento da família, com quatro filhas, e marido com doença de Parkinson. Superação; nada te impediu de ingressar na Escola de Belas Artes, ao lado de sua filha mais velha, e realizar seu sonho.
Transformou o barro em estátuas premiadas; com honras e méritos. Suas obras permanecem espalhadas em praças, casas e salões. Os desafios te Fortaleciam diante de qualquer dificuldade que a vida lhe impusesse. Sempre com sorriso no rosto reagia.
Seus pássaros ainda voam de suas pinturas sumiê, colorindo nossas vidas em tons de alegria, coragem, e determinação. São tantas memórias lúdicas, que permeiam minha alma, e aquecem meus dias frios, nessa breve estadia.
Gratidão eterna; minha querida avó.
Sua neta Sandra

IG:@sandraranhaescritora

Mais uma flor preciosa no jardim

ESSA CARTA VAI PARA UMA MULHER EXTRAORDINÁRIA E MUITO PRECIOSA: MINHA VÓ, LÚCIA.

QUERIDA VÓ,

Hoje recebi a oportunidade de escrever uma carta para uma mulher do passado. A senhora partiu, mas está tão presente em meu interior e no meu dia a dia.

Vó, gostaria muito que a senhora estivesse aqui para ver a mulher que me tornei. A senhora acreditava tanto em mim. Já me deu tantos conselhos, chorou comigo, gargalhou, cuidou de mim, me amou, orou por mim, e hoje o resultado é… a sua essência em minha vida. Uma essência tão presente, vó.

Aquela moça frágil e incapaz, hoje é uma mulher forte, corajosa e cheia de fé.

Ai, vó! Queria tanto que a senhora pudesse estar aqui.

Passei por tantas situações. Chorei tanto. Dei muitas risadas. Mas sempre, em minha memória, a senhora acreditava em mim. Eu tinha que honrar a forma como a senhora me ensinou e me via.

Vó, o meu casamento de 21 anos acabou. Infelizmente, ele não era o protetor que a senhora imaginava, nem o homem com quem eu esperava envelhecer. Mas, enfim…

Hoje, vó, sou uma pastora, escritora, já sou vovó do Samuel e agora está chegando a Maria Júlia. Moro em Maringá, vó, a senhora acredita? No Paraná, onde o seu pai estava comprando a fazenda dele. Infelizmente, não conseguimos encontrá-los antes da senhora partir.

É isso, vó. E hoje, por ser o Dia Internacional da Mulher, quero falar sobre a importância da senhora em minha vida. Vó, nossa caminhada juntas foi apenas por 30 anos, mas foi o suficiente para eu aprender tanto com a senhora.

Tive o privilégio de conviver com uma mulher preciosíssima. A senhora me faz tanta falta. As suas risadas estão em minhas memórias, assim como as nossas conversas.

Hoje, vejo um lindo jardim, jardim construído pelo Criador, onde flores belíssimas e raras foram colocadas. E a senhora foi uma dessas flores, perfumando ainda mais esse jardim de mulheres que hoje já não fazem mais parte dessa terra, mas que deixaram um legado. Mulheres com histórias e sentimentos. Mulheres que também tinham seus pensamentos junto aos seus travesseiros. Mulheres que foram tias, mães, irmãs, sogras, primas, amigas, avós, bisavós etc.

Mulheres preciosas, assim como a senhora, que será sempre a minha preciosidade.

Eu te amo muito. Estou bem. Seguirei forte, honrando seu legado. E em minhas memórias estarão as nossas conversas e risadas.

Eu te amo!

“Que ser é esse?”

Mãe,
Surgiu assim um diálogo em mim. Eu e eu enquanto lavava louça. Como sempre, pia cheia, água e sabão mexem minhas entranhas e muitas das minhas histórias.
Por que me submeti a viver tais situações? Só de pensar sinto raiva de mim mesma. E dos outros também. O que diria Kant? O que pode um filósofo saber e se pronunciar sobre um pobre ser igual a mim?
Você não pode falar assim de uma criatura. Criada por livre opção e desejo do Criador. O universo parou e decidiu sua pessoa. Aqui eu ainda filosofando.
Acho graça de tanta pensação. De vantagem, a pia até esvazia um pouco.
Daí pensei na senhora, mãe. Certo que não se julgava digna das reflexões de filósofo nenhum. Um sorriso tão simples e sincero. Acolhedora nos seus cafés, arroz novinho ou chegando de repente para ficar com o bebê. Socorrendo e tirando do sufoco. Ah… quantas coisas para entregar ao Kant e ele pensaria, pensaria – “que ser é esse?”
A criatura nasceu num paraíso. Praia, mata virgem, peixe fresco, frutas, farinha, tudo em fartura. Morava com os pais na Casa de Farinha. Ali ficava a moenda. Onde se trabalhava a mandioca. Os vizinhos vinham e ajudavam a girar apertando o tipiti até sair todo líquido. Trabalho, esforço, alegria e amizade. As famílias de posses dispunham de bois que giravam e giravam. Mais fácil, mas sem as vozes e os encontros calorosos da amizade.
Num comecinho de noite para terminar o serviço, o pai João Bernardes, pescador, trazedor de peixe fresco, resolveu girar a moenda sozinho. Ela escapou e ele, ferido gravemente, faleceu. A viúva sozinha entregou a filha para a madrinha criar. Antes a menina ficou na casa de um, de outro e de outro. Uma professora a amava muito, mas iria se casar e seguiria seu caminho somente com o marido.
E Kant ainda caminhando de um lado para outro filosofava. Buscava entender tal fenômeno – “que ser é esse?”. Sim, mãe, filósofos estudariam, pensando e pensando, “pode uma criatura ser gerada em inteligência emocional com tanta riqueza, tendo vida tão adversa?”
O adverso gerou a riqueza emocional capaz de forjar uma mulher que nem uma vez se ouviu mencionar palavra de crítica a outra pessoa, nem àquelas por onde passou a infância, a adolescência e a juventude. Talvez o silêncio e o escuro da noite que em descanso faz sonhar. O alimento simples e necessário. As conversas dos adultos sempre ao redor da mesa. Olhar o céu cheio de estrelas. Tudo fez, mãe, a senhora depois plantar canteiros de copos-de-leite, lírios brancos e cravinas. Colher verduras, tomates e milho verde em terreno arenoso bem cuidado. E enfrentar dignamente a vida na cidade, criando seus enteados e filhos.
Com seu silêncio cuidou das filhas, que também precisaram morar distante. Chegávamos, estávamos em casa. Aconchegadas.
Mãe, hoje, dia da Mulher, pensei muito na senhora.
Com saudade. Respirando leve com este feliz reencontro.