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Mulheres em mim

Mulheres em mim

Publicado por:

Emanuele B. B.

Querida bisavó,
Escrevo-lhe com um lenço à mão. Estou emotiva hoje. Será que podemos nos comunicar através desta carta? Espero que minhas palavras possam alcançá-la no espaço-tempo, de alguma forma, onde estiver.
Faltou tão pouco para nos conhecermos pessoalmente, não é!? Sinto muito por não estar aí antes de partires dessa existência. Me perdoa, antecipei a minha chegada o quanto pude, mas só consegui nascer dois dias após a sua partida. Mas pude senti-la do ventre materno. As emoções da mamãe estavam intensas naquele dia. De certa maneira, a mamãe nos apresentou um tempo depois, ao contar histórias e mostrar fotos da senhora.
Nos momentos em que estou no sítio sinto-me mais conectada com a senhora e a vovó. Contemplo as árvores que plantaram; às vezes até converso com as borboletas e os beija-flores. A vovó dizia: “Quer borboletas no seu jardim? Cuide das flores, que as borboletas e os beija-flores virão por conta própria”. Sabia que era uma orientação também para a vida. Acho que a vovó gostaria de saber que o sítio vem sendo conservado e valorizado pela mamãe, com amor. Quando encontrar a vovó, por favor, conta isso para ela!?
Aliás, lembra das mudas de bananeira e de camélia que a senhora trouxe de uma comunidade vizinha? Ainda estamos colhendo e desfrutando das bananas, cultivadas por ti. A propósito, diz para a vovó que aumentamos a produção das bananeiras por aqui; ela falava que seria desafiador devido à geada, e realmente foi, mas insistimos em plantar várias mudas em lugares diferentes, eis que cresceram em abundância. Quanto aos pés de camélia que a vovó plantou, permanecem aqui. Eu e a mamãe costumamos sentar na sombra dessas árvores para ler um livro, com os pés descalços na grama. É agradável sentir o frescor natural dali.
Bisa, quero dizer que sou grata pelo legado que a senhora e a vovó deixaram e por tê-las comigo, fazendo parte das mulheres da minha ancestralidade. Agradeço especialmente à herança de aspecto invisível, de bem maior, que transcende gerações. Não tenho dúvidas de que carrego em mim a força e a coragem das duas, e, claro, da mamãe. Reconheço as dores e os obstáculos que superaram para que eu pudesse ter a minha vida. Eu as vejo e as honro! Todas tem o seu lugar no meu coração.
Ah, as lágrimas que derramei hoje foram de respeito, de gratidão e da saudade que sinto. Despeço-me por ora. Eu te amo.
Com afeto, sua bisneta.

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