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Escrevo-lhe agora
3 de março

Escrevo-lhe agora

Publicado por:

Carina Luft

Paris, 15 de abril de 1956.

Prezada colega,

Tive que viajar às pressas e não pude me despedir, avisaram-me que mamãe teve uma moléstia séria, tomei o primeiro trem para Paris no dia seguinte.

Escrevo-lhe agora para dar notícias e agradecer o chá, também a conversa sincera sobre o meu novo livro. Os conselhos serão seguidos, asseguro-lhe, especialmente aquele em que a senhora falou, entre uma mordida e outra do petit four feito pela senhorita Macy, que “quando reescrevemos, o mais importante é cortar o que não faz parte da história”. E a senhora sorriu ao dizer que era desnecessário falar “delicioso” para aquele petit four.

Os dias em Londres foram edificantes para mim, as aulas de literatura inglesa em Cambridge abriram portas, porém, nada foi mais significativo do que o seu parecer de como devo conduzir a investigação nas próximas edições da tetralogia. Marcou-me deveras o palpite em que a senhora apontou a detetive como uma pessoa bastante passional, sanguinária, e pouco técnica. Para ser sincera, não havia percebido o quanto é importante esta personagem não agir por vaidade, mas por lógica.

No entanto, diante de tudo que foi compartilhado, com ternura e generosidade, como se a senhora fosse a minha professora de literatura, preciso dizer-lhe que guardarei a frase “como nada será conforme o esperado – teremos, ao menos, nos divertido enquanto planejávamos”. Isto é incrível! O que me preocupa é que a senhora falou rindo em meio a uma tosse e outra; tosse, esta, repetida várias vezes em nossos encontros. Espero que já tenha chamado o doutor Edward para avaliar o quadro.

Pois bem, querida Agatha, preciso finalizar a carta, mamãe me chama e está bastante rabugenta desde o dia em que soube da publicação do meu livro no Brasil, terei que viajar para lá em breve. Não havia lhe comentando, na ocasião, mas recebi o convite de uma editora do sul do Brasil, ela se interessou pelo segundo livro da tetralogia. Assim que tudo melhorar, voltarei a Londres. Mattew deve ir comigo, ficou curioso para conhecer a senhora quando eu disse que tomei chá com uma nova amiga e também escritora, porém famosa, chamada Agatha Christie. Ele arregalou os olhos e disse-me: preciso, portanto, levar “O misterioso caso de Styles” para ela autografar.

Até breve, nobre colega.

C.L.

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