O escritor e educador Rubem Alves, em uma de suas entrevistas, ressalta a importância de oferecermos “algo bom” para pagarmos nossas promessas, dando o seguinte exemplo: “Senhor, se me concederes essa bênção, eu prometo que, todos os dias às 6 horas da tarde vou ler um poema de Fernando Pessoa”. Fico imaginando a audiência que daria na televisão se, ao invés dos programas policiais que pululam a cada momento neste mesmo horário, tivéssemos um programa exaltando a poesia de Fernando Pessoa ou outro poeta qualquer. Poesia não dá o mesmo ibope que um programa policial contando as mazelas de se viver no planeta Terra, mas nós vivemos esperando por esses momentos mais poéticos em nossas vidas. Porém, em muitas ocasiões, achamos que promessas bem feitas são apenas aquelas a que recorremos a punições e uma vida que se sofre é uma vida necessária para atingirmos objetivos.

Recorrendo novamente à Rubem Alves, ele também conta que as pérolas só são fabricadas pela ostra porque entram alguns grãozinhos de areia que as machucam e produzem esta esfera valiosa. Contudo, há uma diferença entre se ter resiliência de se passar por uma tempestade que veio sem avisar e saber aguardar a calmaria, do que se escolher estar nesta tempestade. Há sofrimentos que são opcionais, sofrimentos que a gente pode escolher vivê-los ou não. Mas, todo sofrimento é passageiro! Cabe a nós, primeiro, saber como não entrar em problemas que nem deveriam existir, e, para aqueles que somos obrigados a passar, que saibamos revertê-los o mais rapidamente possível. No meu caso, a poesia ajuda bastante. E no seu caso? O que lhe ajuda a sair de um momento desagradável? O que lhe faz perceber que os problemas podem ter soluções?


Não conseguimos enfrentar momentos difíceis sem recorrermos à felicidade. Não produzimos pérolas provindas de marteladas, sua fabricação é sempre um processo interno de amadurecimento. Não se cria resiliência apenas com sofrimento, muito pelo contrário. Focar naquilo que mais nos agrada é a melhor maneira de nos protegermos de todo mal. Precisamos, então, em meio a tantos dias nublados que temos, saber encontrar o caminho do sol e observar um arco-íris no céu. 


Deve-se sempre achar graça antes de encontrar a gratidão! O que precede a batalha que é necessária ser vivida é saber do porquê se luta, já que o “para quem” deve ser sempre nós mesmos. Vamos sempre buscar persistir na vida se tivermos bons motivos (nossos reais motivos) para tal, e isso a gente só percebe quando escolhemos uma vida mais leve, uma vida sem ficarmos reclamando daquilo que já está feito, achando melhor ir arrumando, dando um novo jeito, criando novos olhares e encontrando novas perspectivas para deixar a alegria entrar novamente. Um círculo vicioso de críticas à vida se cria quando paramos de nos importar com a nossa felicidade e passamos a dar mais valor àquilo que nos fez mal. Portanto, saibamos criar nossas pérolas, mas sempre prometendo, para Deus e para si mesmo, o melhor que nós temos, a nossa poesia de Fernando Pessoa lida às 6 horas da tarde.

Conheça o livro do autor Fábio Granville, A gente se comporta melhor na calmaria quando já passou por tempestades.

6 respostas

  1. Que texto inspirador! Despertou uma súbita vontade de ler uma poesia de Fernando Pessoa, ou de Alberto Caeiro, ou de Álvaro de Campos, ou de Ricardo Reis… quem sabe, até, de Bernardo Soares? 😉

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Fábio Granville

Fábio Granville, 43 anos, poeta, professor, palestrante espírita e escritor. Autor do livro "A gente se comporta melhor na calmaria quando já passou por tempestades" pelo selo página Nova.