Carta para Eva, a Mãe de Todos os Viventes
Querida Eva,
Hoje, sento-me para escrever estas raras palavras com o coração transbordando de uma alegria que só agora começo a compreender. Ao ler sua história, vejo que você foi a primeira a experimentar algo que hoje me enche de um profundo sentido de realização: a capacidade de dar vida, de trazer ao mundo uma nova existência, um novo ser. Deus tirou um homem de dentro de mim, assim como tirou você de Adão, e essa experiência mudou tudo.
Lembro-me de quando, ainda muito jovem, ouvi sobre sua criação. Você foi formada a partir de uma costela de Adão, não do barro, como ele, segundo está escrito. Isso sempre me pareceu tão significativo. Você não veio de um lugar distante ou de um material diferente; você veio do próprio Adão, como se Deus quisesse mostrar que homem e mulher são feitos da mesma essência, destinados a caminhar juntos. E agora, ao sentir o amor à vida crescer dentro de mim, entendo um pouco do que isso significa. Deus também tirou um homem de dentro de mim, e isso me conecta a você de uma maneira que nunca imaginei.
Quando olho para meu filho, vejo não apenas um pedaço de mim, mas uma nova história que está apenas começando. É como se, através dele, eu pudesse ver o futuro se desdobrando, cheio de possibilidades e promessas. Você deve ter sentido algo semelhante ao segurar Caim, Abel e Sete nos braços pela primeira vez. A vida que você deu ao mundo foi o início de tudo, o primeiro passo de uma jornada que ainda estamos vivendo.
Eva, sua história me ensina que a vida é um dom precioso, mas também uma responsabilidade. Você enfrentou desafios, tomou decisões difíceis e carregou as consequências de suas escolhas. Mas, acima de tudo, você deu continuidade à vida. E agora, ao segurar meu filho, sinto que estou participando dessa mesma missão. É como se, através dele, eu pudesse tocar o próprio sopro de Deus, aquele que deu vida a Adão e a você.
Às vezes, me pergunto como você se sentiu ao saber que seria a mãe de todos os viventes. Era um peso ou uma honra? Para mim, é um pouco dos dois. Lembro aqui quando, ao ver seu primeiro filho, disse alegremente: “Deus tirou um homem de mim!”. Há dias em que me sinto pequeno diante da grandiosidade dessa tarefa, assim como todos que estão abertos à vida, mas também há momentos em que sinto uma alegria tão grande que parece que meu coração vai explodir. É como se, ao dar vida, eu estivesse participando de algo maior, algo que vai além de mim mesma.
Eva, quero agradecer por sua coragem em ser a primeira a ter uma descendência, a qual chegou aos dias de hoje. Você não foi perfeita, mas recebeu esse dom de passar a vida a outrem de ninguém mais do que o próprio criador da vida, e talvez seja justamente por isso que sua história ressoa tanto em mim. Você me lembra que a vida é feita de escolhas, de erros e de recomeços. E, acima de tudo, você me lembra que a capacidade de dar vida é um dos maiores milagres que existem.
Hoje, ao olhar para meus filhos
